segunda-feira, 8 de março de 2010

A convite do Jornal de Limeira, o vereador professor José Farid Zaine, que também é cinéfilo e crítico de cinema, escreveu artigo especial sobre o Oscar 2010. Você confere também aqui no blog Informativo Farid Zaine (PDT):
2010: AS GUERRAS DO OSCAR
Por José Farid Zaine

A maior potência do mundo viaja ao Espaço para se apoderar de riquezas naturais que já tem dono, ou vai exercitar o intervencionismo por aqui mesmo, expondo jovens soldados à tortura da iminência da morte por uma bomba... Um cinema lotado com os chefões do III Reich tem suas portas trancadas, e um incêndio vai cozinhá-los, todos ao mesmo tempo, como vitória de um grupo de judeus exterminadores de nazistas...um povoado na Alemanha na época da Primeira Guerra vê estranhos acontecimentos surgirem, como se a semente do mal estivesse sendo silenciosamente cultivada para florescer nas gerações seguintes, nos campos de extermínio que marcaram o Holocausto... Tudo isso está presente nos filmes mais cotados para receberem prêmios na 82ª edição do Oscar: “Avatar”, “Guerra ao Terror”, “Bastardos Inglórios”, “A Fita Branca”. A guerra, em suas múltiplas faces e em seus diferentes cenários e épocas, é a marca mais forte deste Oscar. O prêmio maior da Academia é, como sempre, o mais aguardado em todo o mundo, e a cerimônia de sua entrega, a mais vista em todo o planeta. Todas as especulações, todas as análises e listas de críticos, todos os prêmios concedidos anteriormente, remetem ao Oscar. Se os vencedores do Bafta (o maior prêmio do cinema inglês) ou do Globo de Ouro coincidem com o Oscar, então se diz que acertaram...O César, que acaba de consagrar “Un Prophète”, de Jacques Audiard, é considerado o Oscar Francês. O Goya, o maior troféu do cinema espanhol, é considerado o Oscar espanhol...e por aí vai. Não é a toa que a categoria Filme estrangeiro (por lá, na verdade, é Filme falado em língua estrangeira) está cada vez mais concorrida. Neste ano, mais de 60 países inscreveram seus filmes, sobrando apenas 5 finalistas, entre eles o maravilhoso alemão “A Fita Branca”, o premiadíssimo francês “Um Profeta”, o belo e emocionante “O Segredo de Seus Olhos”, da Argentina...só mencionando esses três, como imaginar que o fraquíssimo brasileiro “Salve Geral” figurasse entre eles? Mais um erro da comissão que escolhe nosso representante, neste ano ainda pior que nos anteriores.

2009 foi um ano de lançamento de bons filmes, e da consagração do 3D. “Avatar” tornou-se o filme mais lucrativo da história, com suas reais qualidades técnicas, apesar do enredo lugar-comum e das breguices de algumas sequências. Outras, pela grandiosidade, marcarão o cinema para sempre. Ninguém duvida que as imagens mais lembradas deste ano serão as dos enormes e azuis habitantes de Pandora.

Bem, mas vamos às possibilidades de prêmios para os indicados. Para o meu gosto, o melhor filme do ano foi “Bastardos Inglórios”, e também seu diretor, Quentin Tarantino, foi o melhor. Acredito que esse filme não vá ganhar o Oscar de melhor filme, nem de melhor diretor. Esses deverão ficar com “Guerra ao Terror” e Kathryn Bigelow, ex-esposa de James Cameron. “Guerra ao Terror” (The Hurt Locker) deve ainda ficar com os prêmios de roteiro original, edição, som e mixagem de som. “Avatar” merece os prêmios de Efeitos Visuais e Direção de Arte, e embora tenha excelente fotografia, acho que o preto e branco de “A Fita Branca” dão ao filme a atmosfera dramática necessária, com um preciosismo visual impressionante, portanto merecedor do prêmio. Com esse filme a Alemanha deve levar o Oscar de melhor filme estrangeiro, embora a França seja forte concorrente com seu “Un Prophète”. A melhor atriz, para mim, será sempre Meryl Streep, a mais extraordinária atriz do cinema contemporâneo, mas a Academia deverá premiar Sandra Bullock, uma atriz cada vez melhor e digna de reconhecimento. Como ator, a parada é dura, e deve ganhar Jeff Bridges, por “Coração Louco”, apesar de meu favorito ser George Clooney, em “Amor Sem Escalas”, que deve ficar com o prêmio de melhor roteiro adaptado. “Coração Louco” deve levar a estatueta de melhor canção, “The Weary Kind”, num ano particularmente fraco nessa categoria. O musical “Nine”, para o qual se criou grande expectativa, por ser inspirado na vida de Fellini e sua obra-prima, “8 e meio”, decepcionou, principalmente pela música inexpressiva. “Up”, o lindo desenho da Pixar, que deve ser premiado como melhor longa de animação, deve levar também o prêmio de melhor trilha sonora. Entre os codjuvantes, duas “barbadas”: Ninguém tira o Oscar de Christoph Waltz, por “Bastardos Inglórios”, nem de Mo´Nique, por “Preciosa”. Waltz, ao compor o caçador de judeus de “Bastardos”, conquistou unanimidade mundial. Mo´Nique, por sua vez, é a grande força de “Preciosa”, um bom filme, mas superestimado pelas seis indicações. Se eles não ganharem, “aí sim seremos surpreendidos...”

O Melhor documentário deverá ser “The Cove”, sobre a matança de golfinhos, e “The Young Victoria” poderá levar os prêmios de maquiagem e figurino.
O Oscar 2010 ainda tem ótimos filmes com poucas chances de premiação, como a interessante ficção científica “Distrito 9”, a deliciosa e inteligente comédia dramática “Up in The Air” (Amor sem Escalas), o ótimo inglês “Educação”, com a brilhante interpretação de Carey Mulligan , e também a costumeira presença dos Irmãos Coen, que rencentemente nos deram o excepcional “Onde os Fracos Não tem Vez”, e agora nos entregam o mais que esquisito “Um Homem Sério”.
Seres Azuis num universo de montanhas flutuantes (Avatar), um homem viciado em guerra, prestes a explodir com bombas por serem desarmadas (Guerra ao Terror), um grupo de judeus que se juntam para exterminar nazistas (Bastardos Inglórios), uma casa que voa sustentada por balões (Up), o desejo de viver eternamente “nas nuvens” (Amor Sem Escalas), o ser que está sempre sofrendo com a sensação de desprezo e inadequação ao ambiente em que precisa viver (Distrito 9 e Preciosa), a dúvida sobre que benefícios um mergulho nos estudos em uma universidade trarão à vida (Educação), golfinhos destroçados num mar de sangue (The Cove), rostos angelicais de crianças num dramático jogo de luz e sombras (A Fita Branca)...Imagens e histórias que ilustrarão a memória do Oscar 2010 para sempre, sejam quais forem os vencedores, num ano em que a guerra, escancarada ou camuflada, terá sido a personagem principal.

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