segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Repercussão 2

Nesse sábado, 14 de agosto, na Gazeta de Limeira, a coluna “CineArte” abordou os filmes “Preciosa” e “Educação”. O texto, de José Farid Zaine, está disponível na íntegra abaixo:

WOODSTOCK E O PAPA

Por José Farid Zaine
farid@limeira.com.br
Twitter: @faridzaine

Os leitores poderão estranhar a relação proposta no título desta matéria. Já me entenderão.

Ang Lee é um cineasta de carreira regular, seus filmes sempre são bons, tecnicamente bem acabados e instigantes. Basta mencionar o trabalho que lhe deu o Oscar de melhor diretor, o polêmico e belíssimo “O Segredo de Brokeback Mountain”, que revelava ao mundo o triste e candente romance entre dois cowboys, e aí ele mexia no símbolo da virilidade americana nas telas. O filme rendeu uma das melhores interpretações masculinas da história do cinema, feita por Heath Ledger, morto logo depois precocemente. Em “Aconteceu em Woodstock”, Ang Lee nos transporta ao longínquo 1969, ao maior festival de Rock de todos os tempos, e nos coloca à margem do evento, observando e analisando o que aquele acontecimento trouxe para a vida das pessoas da pequena White Lake, perto da qual o festival acontecia, numa fazenda, sobre um enorme gramado e sob chuva. Aquela geração de jovens acreditava que o mundo podia mudar, que as canções de paz e amor calariam as guerras e trariam a igualdade a todos. Aqueles jovens não tinham medo do corpo, que exibiam sem pudor, nem do sexo, nem do amor. Neste filme acompanhamos a vida de Elliot Tiber, que foi o responsável por ceder um alvará para a produção do show, que havia sido expulsa da cidade vizinha. Woodstock passaria por White Lake como um enorme furacão, deixando profundas marcas nos seus habitantes e sacudindo o mundo com imagens, vozes e sons, a partir daqueles que seriam sempre celebrados como os três dias de paz e música. Ang Lee não nos coloca para assistir aos shows de Janis Joplin, Joan Baez ou Jimi Hendrix. Ficamos nos arredores, de longe, no corpo de Elliot, vivendo com ele as mudanças de um acontecimento devastador, mas cujos efeitos não foram tão longe quanto desejavam seus sonhadores protagonistas.

Estamos agora em Melo, pequena cidade da fronteira Brasil-Uruguai. Seus habitantes seguem sua rotina de pequenos negócios, trambiques, contrabandos, até que uma notícia vem abalar seu cotidiano pacato como se fosse um terremoto. O Papa fará uma visita à cidade! A iminente chegada de João Paulo II, o mais “pop star” dos religiosos na história recente do mundo, agitará a população do local, não pela possibilidade de uma mudança espiritual que venha com a presença de Sua Santidade, mas pelo sonho de diminuir a pobreza, realizando negócios para uma anunciada multidão que passará por ali. Beto, o protagonista, cuja mulher economiza o que pode para que a filha, que sonha ser repórter de TV, possa estudar, tem a idéia de construir um banheiro, na ilusão de que receberá muito dinheiro daqueles que visitarão a cidade, e que precisarão usar um sanitário. Muitos investirão tudo o que possuem comprando alimentos para preparar lanches e pratos para milhares de pessoas que, imaginam, virão famintas. Aqui não iremos também ao grande evento, à missa do Papa. Ficaremos à margem, sentindo com os habitantes de Melo o efeito da passagem tão fulminante do mais carismático líder religioso. Veremos que o mesmo vendaval que vem produzir sonhos e ilusões, pode carregá-los para longe, rapidamente. Escrito e dirigido por César Charlone e Enrique Fernández, “O Banheiro do Papa” ganhou o prêmio de melhor filme da Mostra de Cinema de São Paulo, e em Gramado ganhou o Kikito de melhor filme e também favorito do público, o que não é pouco.

“Aconteceu em Woodstock” e “O Banheiro do Papa”, tem, portanto muito em comum. Ambos falam de grandes eventos e de como eles podem afetar as nossas vidas, mesmo que estejamos ausentes da plateia de um grande show ou que nem consigamos tocar nas vestes de um Papa.


Serviço: Os filmes aqui comentados estão disponíveis em DVD.


ACONTECEU EM WOODSTOCK (Taking Woodstock, EUA,2009), direção de Ang Lee, com Demetri Martin, Dan Floger e Imelda Staunton.



O BANHEIRO DO PAPA ( El Baño Del Papa, Brasil/Uruguai/França, 2007), direção de César Charlone e Enrique Fernández.

Créditos Imagens - Divulgação.
Assessoria Parlamentar do Vereador José Farid Zaine (PDT)

Um comentário:

  1. Eu adoro tudo que escreve, eterno professor!
    Beijo da Giovana.

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