segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Repercussão 6

Nesse sábado, 28 de agosto, na Gazeta de Limeira, a coluna “CineArte” abordou os filmes “Criação” e “O Vento será tua herança”. O texto, de José Farid Zaine, está disponível na íntegra abaixo:

DEUS SOB A LUPA?

Por José Farid Zaine
farid@limeira.com.br
@faridzaine

O dia 24 de novembro de 1859 marcou para sempre a história da ciência e do mercado editorial: num só dia esgotou-se a primeira edição de “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin. O livro deflagrava, em todo o mundo, um inédito embate entre ciência e religião. Darwin apresentava a Teoria da Evolução, considerada a base da biologia moderna, demonstrando através de provas concretas, o surgimento das espécies. Era inevitável o choque com a explicação bíblica contida no Gênesis. O assunto, fascinante, volta ao cinema num filme perturbador dirigido por Jon Amiel, e interpretado por Paul Bettany e Jennifer Connelly, chamado “Criação”. Para mim, que sou formado em História Natural, e para os biólogos, a obra tende a ter mais significado, a ser mais instigante, pelo fato de termos estudado profundamente o tema numa disciplina intitulada “Evolução”, e vermos que o filme não se aprofunda na questão científica, como se fosse um documentário do National Geografic. Surge para o público, seja ele formado por cientistas ou não, a oportunidade de conhecer o homem Darwin, sua vida familiar, seus dilemas, seus temores e seus fantasmas. Quando estudava Evolução na Universidade, parecia distante a figura humana do cientista, pois o objeto de estudo era sua obra, e não sua vida. Em “Criação”, temos a chance de entrar no cotidiano de Charles Darwin, participar do processo que culminou na edição de um dos mais significativos livros de todos os tempos. Paul Bethany faz uma eficiente composição da personagem principal, dando-lhe os traços de humanidade que não nos são revelados nos estudos científicos. O homem, diante do drama causado por sua criação, angustiado pelas revelações feitas a si próprio, através de suas descobertas, vê sua obra cristalizar-se como uma negação da divindade. Deus estará morto, se Darwin estiver correto? Essa questão dominou um debate universal que perdura até hoje. Contudo, é perfeitamente possível para o homem manter sua fé e compreender os mecanismos da seleção natural, do surgimento das espécies, provocado por transformações e adaptações ao ambiente, fixados geneticamente e passados a descendentes. Muitos cientistas mantém firmes sua fé e sua crença em Deus, considerando que a complexidade do processo evolutivo só é possível que seja compreendida em sua plenitude pela existência de uma inteligência superior. Quando Darwin morreu, aos 73 anos, estava em paz com a Igreja, que não lhe negou todas as honras fúnebres.
Com magnífica fotografia e levado com um tom dramático acentuado, “Criação” tem um problema: as idas e vindas no tempo, sem nada que demarque essas mudanças claramente, tornam o roteiro um pouco confuso. Mas o resultado geral é compensador.
Para quem gostar do filme, recomendo um clássico de Stanley Kramer,de 1960, a respeito de um fato ocorrido em 1925: um professor é levado aos tribunais, numa cidade dos EUA, por ter ensinado a Teoria da Evolução, de Darwin, numa escola pública. O resultado foi o magnífico “O Vento Será Tua Herança”, com Spencer Tracy, indicado ao Oscar por esse trabalho.
Vale a pena conhecer os dois filmes. Não está em questão em nenhum deles, colocar Deus sob uma lupa, num laboratório, mas apenas mostrar o ser humano que deseja revelar suas ideias, compartilhá-las e contribuir para a evolução do conhecimento. Isso, ao longo da História, nem sempre foi feito de forma pacífica.

SERVIÇO

“Criação” (Creation, Reino Unido, 2009). Drama dirigido por Jon Amiel, com Paul Bettany e Jennifer Connely. Disponível em DVD e Blu-Ray.

Cena do filme "Criação"

“O Vento Será Tua Herança” (Inherit The Wind, EUA, 1960). Drama dirigido por Stanley Kramer, com Spencer Tracy e Fredric March. Disponível em DVD.

Assessoria Parlamentar do Vereador José Farid Zaine (PDT)

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