segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Repercussão



Veja “CineArt” do último sábado, 23, publicado na Gazeta de Limeira. O texto, de José Farid Zaine, está disponível na íntegra abaixo:




A THING OF BEAUTY IS A JOY FOREVER

Por José Farid Zaine
farid@limeira.com.br
twitter.com/faridzaine


Quando tive o primeiro contato com a poesia de John Keats fiquei fascinado por este verso, “a thing of beauty is a joy forever”, que sempre passei a citar. Nunca vi uma tradução em português que fizesse jus à sua grandeza. Eu mesmo tentei muitas vezes,não traduzi-lo literalmente,claro, e sim recriá-lo num poema... mas nunca fiquei completamente satisfeito. Resolvi preservá-lo sempre assim, no original, para não destruir sua beleza. O poema, que abre o livro Endymion, de Keats, já foi objeto de estudo de milhares de pesquisadores da literatura inglesa e gerou as mais diversas interpretações, sendo ponto de partida para profundas reflexões sobre a beleza, sobre a arte. Lendo recentemente um artigo de Heron Moura na internet, ele diz que “não é a obra em si que é eterna no poema de Keats, é a sua fruição...como pode uma fruição ser eterna?” Esse pensamento pode gerar uma discussão sem fim...O que é eterno, na verdade: a obra de Botticelli, A Alegoria da Primavera,preservada num objeto material, que é o quadro, ou o instante de encantamento diante dela? Mas vamos ao motivo de nosso artigo, o filme “Brilho de Uma Paixão” (Bright Star), de Jane Campion, a diretora neozelandesa que ganhou a Palma de Ouro em Cannes com “O Piano”. A história do amor entre o poeta inglês John Keats e a jovem Fannie Browne, estudante de moda, poderia parecer uma coisa chata. Moda e poesia, no entanto, resultaram num filme de visual arrebatador, e os versos de Keats e os fios dos bordados e franjas de Fannie vão tecendo um romance encantador. O leitor imaginará que, sendo uma história de amor cheia de percalços, paixão candente, separações dolorosas, a trilha sonora sublimará os momentos mais belos...Quem imagina “Romeu e Julieta”, de Franco Zeffirelli, sem imediatamente se lembrar de “A Time For Us”? Impossível visualizar o amor de Larissa e Jivago em “Doutor Jivago”, sem que sons guardados no cérebro recomponham o “Tema de Lara”...Aqui, não. Em “Brilho de Uma Paixão”, a trilha sonora é mínima. Nos momentos do mais intenso romantismo, são os versos de Keats que fazem a trilha sonora...é deles que vem a musicalidade que perpassa pelas cenas, como se fossem música. Quando os jovens amantes andam pela floresta, não há violinos pelo ar, nem um oboé solitário, nem um cello...o som é o dos passos sobre as folhas, do vento nas árvores, da água no riacho. Eu adoro trilhas sonoras, sou fã da música de cinema, que já nos deu tantos momentos de genialidade e pura beleza. Neste filme, no entanto, a música presente é de alta qualidade, mas os silêncios cortados pela poesia são os que, paradoxalmente, falam mais alto...Quando fui ver o filme, fiquei curioso para ver em que situação veria surgir “a thing of beauty is a joy forever”, e é logo no primeiro contato de Fannie Browne com um livro de seu amado que aparece o verso: é a primeira coisa dele que ela lê...e a cena é linda!

“Brilho de Uma Paixão” nos remete, através de sua beleza plástica, construída com excelente fotografia e brilhante direção de arte, à Inglaterra do início dos anos 1800, para o diferente e irresistível romance entre um poeta e uma modista. Os figurinos são primorosos, principalmente os originais vestidos de Fannie, e isso levou o filme à uma indicação ao Oscar nessa categoria.
Todo o elenco é muito bom, mas o casal central foi uma escolha extremamente cuidadosa e acertada da diretora. A intérprete de Fannie é Abbie Cornish, no auge de uma beleza vigorosa, contraste perfeito com a fragilidade de Keats, captada com maestria por Ben Whishaw.

Mergulhar no romance delicado e trágico de John Keats e Fannie Browne exigirá um ambiente sereno: sala escura, silêncio completo, e nada de pipocas e latas de refrigerante, tudo para entrar no clima de beleza e calma do filme, ainda que a poesia pulse a todo instante, retirando o véu que recobre a turbulência da paixão e a dor causada pelo amor.

“Brilho de Uma Paixão” é um lançamento recente em DVD, mas a obra de Jane Campion pode ser avaliada com uma revisão de seu filme mais famoso, “O Piano”, de 1993, premiadíssimo no mundo todo, incluindo 3 Oscars (Melhor atriz para Holly Hunter, melhor atriz coadjuvante para a então menina de 11 anos,Anna Paquin, e Melhor Roteiro Original). Anna Paquin é hoje aquele mulherão de True Blood...

“Brilho de Uma Paixão” está recomendado...com um desafio aos meus leitores: quem me enviará a tradução definitiva para meu verso favorito de John Keats, “a thing of beauty is a joy forever” ?


SERVIÇO


“Brilho de Uma Paixão” (Bright Star), Reino Unido/Austrália/França, 2009, Drama, direção de Jane Campion, 119 min, PlayArte. Disponível em DVD e Blu-Ray.

“O Piano” (The Piano), Austrália/França, 1993, Drama, 120 min, Disponível em DVD e Blu-Ray.




Assessoria Parlamentar do Vereador José Farid Zaine (PDT)

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